sábado, 9 de maio de 2009

Celso Antonio: gênio esquecido

Auto-retrato. Desenho a guache.
Celso Antonio é um escultor, pintor e desenhista modernista caxiense nascido no ano de 1896. Sua obra, inexplicavelmente, jaz no esquecimento e seu nome se perde nas sombras do desconhecimento. No entanto, seu trabalho e sua história constituem-se num rico episódio da história da arte no Brasil. Basta notarmos que, durante o rebuliço modernista das décadas de 1920 a 40, o artista esteve trabalhando ao lado de homens e mulheres como Di Cavalcanti, Candido Portinari, Tarcila o Amaral, Anita Mafalti, Villa Lobos, Brecheret, Oscar Niemeyer, entre outros titâs da história de nossa cultura.
Estátua do Trabalhador. Escultura em pedra.
Tendo estudado na França, com Emile Antoine Bourdelle (discípulo de Rodin e um dos maiores nomes da escultura francesa; há um museu com seu nome em Paris), de quem foi alundo dileto, Celso Antonio desenvolveu um estilo original de escultura, baseado nos traços fisionômicos e anatômicos do brasileiro, destacando os traços herdados dos ancestras indígenas -- estilo bem situado no projeto "antropofágico" do modernismo de 1922, como se vê na estátua acima, Estátua do Trabalhador, concebida para o Ministério do Trabalho, e de lá retirada após grande polêmica em torno de suas características estéticas.
Monumento tumular de Lídea Piza de Rangel Moreira.
Granito cinza polido.
Celso Antonio experimentou a glória e o infortúnio: teve seu talento e seu trabalho reconhecido por um tempo, esteve ao lado dos maiores artistas de sua época, tanto no Brasil como no exterior, e foi sempre respeitado por eles -- não apenas escultores e pintores, mas poetas e escritores, como Manoel Bandeira (de quem esculpiu a cabeça), Coelho Neto, Carlos Drumond de Andrade, Gilberto Freyre, e tantos outros. Mas, devido às polêmicas em que sua obra o envolveu, ao seu temperamento peculiar, e sabe-se lá que outras razões, acabou sendo esquecido; sua obra foi-se tornando anônima: nos prédios de Niemeyer, como a sede do Ministéro da Educação -- hoje Palácio Gustavo Capanema --, construída durante a gestão do ministro Gustavo Capanema (de quem Celso Antonio fez o busto), e que é um marco na arquitetura brasileira -- ali estão as etátuas de Celso Antonio, sem que ninguém saiba o nome do homem que lhes deu forma.

Moça ajoelhada. Granito rosa.
Segundo a Bíblia Sagrada, Deus é um poeta -- pois cria mundos pela palavra --, mas é também um escultor: fez o homen, uma escultura de barro, e a mulher, uma escultura de osso. Celso Antonio Silveira de Meneses é um desses deuses que vem parar na terra e vagam por aí, como o albatroz de Baudelaire: aprisionado na terra, não pode voar, mas com asas tão grandes que não lhe permitem andar. Ele nasceu em Caxias - MA, em 1896, e, na infância, brincava de ser Deus no barro desta cidade, modelando Adão da terra vermelha, soprando em suas ventas para dar-lhe vida, extraindo uma costela para moldar Eva.

Rosto de Mulher.
E, para finalizar a breve apresentação deste grande artista, um gênio esquecido, como disse Eliézer Moreira Filho, à sua terra natal, deixo estas palavras que vieram das alturas da sensibilidade de Carlos Drumond de Andrade e que não deixam dúvidas sobre a grandeza e a importância da obra deste homem que nasceu em caxias, mas que pertence ao mundo:
"Celso Antonio merece ser descoberto e analisado como uma das expressões mais fortes da escultura brasileira".




Referência


MOREIRA FILHO, Eliézer. O Monumental Celso Antonio: um gênio esquecido. Disponível na biblioteca da Academia Caxiense de Letras.